Neste artigo vamos falar sobre um fenômeno mundial e irreversível para o qual se cunhou o termo SaaS.
SaaS é uma sigla em inglês que está mudando profundamente a forma com que as empresas e as pessoas se relacionam com as fabricantes de software nos últimos anos. SaaS significa “Software as a Service” – em português: “Software como Serviço”. Mas, na prática, o que isso quer dizer?
Vamos começar falando das empresas. Há décadas, as empresas estão acostumadas a comprar sistemas. Por exemplo, uma indústria que queira controlar seu departamento financeiro ou planejar e controlar sua produção irá comprar um sistema do tipo ERP. Tradicionalmente, esta compra se traduz na aquisição de licenças vitalícias de uso, um contrato de implantação do sistema e, geralmente, também um contrato de suporte e atualizações deste sistema. Basicamente, a compra das licenças de uso funciona de maneira análoga à aquisição de um bem, tal como uma máquina ou um veículo, por exemplo.
Você, como pessoa física, também se enquadra neste modelo. Ao comprar um computador, indiretamente você está adquirindo uma licença de uso do Microsoft Windows, ou, se deseja ter uma planilha eletrônica, irá comprar um pacote do tipo Microsoft Office.
Nestes últimos anos, porém, com a ampliação da infraestrutura e aumento da velocidade da internet na maior parte dos países, começou ser possível que uma empresa ou pessoa possa usar um sistema sem que ele esteja instalado no meu computador ou no servidor da minha empresa. Foi com esta possibilidade que começaram a aparecer os primeiros sistemas alugáveis, sistemas estes que você paga uma mensalidade ou paga pela utilização. Com referência a este jeito de usar sistemas e equipamentos que podem estar rodando em qualquer lugar do mundo, se popularizaram os termos computação em nuvem e cloud computing.
Do ponto de vista de quem contrata esses serviços, a grande vantagem é que o contratante não precisa se preocupar com o gerenciamento de sistemas e equipamentos complexos, tais como: rotinas de backup, manutenção de bancos de dados, renovação de servidores, etc.
O modelo também é interessante porque permite economias de escala que beneficiam os fabricantes e os clientes. Por exemplo, servidores e infraestrutura computacional de ponta, que seriam inacessíveis ao grande público de empresas e pessoas, são justamente aqueles utilizados nestes tipos de serviço, o que é possível pelo fato de eles serem compartilhados.
Do ponto de vista exclusivo dos fabricantes destes softwares, os grandes atrativos são a renda recorrente e a previsibilidade em seus fluxos de caixa que este modelo permite. Estes são os principais motivos pelos quais este movimento não tem volta.
No âmbito doméstico, aos poucos, isso tem se ampliado. Programas tradicionais, como Adobe Photoshop e Microsoft Office, já estão neste caminho. Um sinal interessante do que o futuro nos reserva é a patente de número 20080319910 registrada pela Microsoft em 25 de dezembro de 2008 no Departamento de Marcas e Patentes dos Estados Unidos intitulada: “Metered Pay-As-You-Go Computing Experience” em português, em tradução livre: “Experiência computacional pague-pelo-que-usar”.
Neste texto a Microsoft descreve a oferta de um computador com sistema operacional e diversos pacotes de programas instalados pelos quais você paga pelo que e quanto usar. O interessante é o que eles falam sobre a máquina: falam de um computador com capacidade variável. Ou seja, se eu precisar de um processador mais potente, por exemplo, imediatamente teria isso disponível. O mesmo valeria para outros recursos como memória, capacidade de processamento de vídeos, velocidade de rede, entre outros. Hoje, para nós usuários domésticos, isso é um pouco difícil de imaginar. Afinal, compramos um computador que tem um certo processador, uma certa placa de vídeo, uma quantidade de memória e daí por diante. Se eu quiser aumentar essa capacidade, tenho que substituir uma ou mais peças.
Para aqueles que não sabem, isso já existe e está disponível para qualquer pessoa (que tenha um cartão de crédito). Empresas como Microsoft, Google e Amazon já oferecem muitos recursos daqueles descritos na patente mencionada neste artigo. Entretanto, estes serviços atualmente são muito mais utilizados por empresas do que pessoas físicas.
Neste ponto é preciso fazer um comentário para sermos precisos na terminologia: essas ofertas de aluguel de hardware mais softwares básicos como sistemas operacionais, banco de dados, firewall são classificados como IaaS – Infrastructure as a Service (em português: “Infraestrutura como Serviço”). Para complicar um pouco, também existe o conceito de PaaS – Platform as a Service (em português: “Plataforma como serviço”). Tanto IaaS quanto PaaS são temas extensos que ficam para próximos artigos.
Com tudo isso, fica a reflexão de para onde estamos caminhando. Será que num futuro próximo não compraremos mais celulares, computadores, videogames, etc? E em nossos lares teremos somente aqueles equipamentos inspirados em filmes futuristas que são só telas que mostram informações processadas em computadores que estão em qualquer lugar do planeta? Prever qualquer coisa na área de tecnologia é difícil, porém, o que é possível afirmar é que, cada vez mais, empresas e pessoas terão contas mensais dos softwares que utilizam.